Temporada 2025 Começa com Voos Épicos no Sertão Brasileiro

10 de outubro de 2025 - Por Lucas Axelrud

A Suíça em Busca dos 600 km no Céu do Nordeste

Outubro marca o início da temporada de voos de distância no Sertão brasileiro — um dos melhores lugares do mundo para o voo livre. E se alguém ainda duvidava disso, a equipe da Swiss XC League acaba de comprovar mais uma vez o potencial dessa região singular.

Em meio a paisagens áridas repletas de beleza e cultura, os pilotos suíços protagonizaram voos com marcas expressivas. Os destaques da temporada até agora foram os voos de Sebastian Benz (592 km OLC) e Patrick Meyer (588 km OLC) — ambos impressionantes não apenas pela distância, mas pelas condições em que foram realizados.

O Sertão: Terreno, Cultura e Céu Incomparáveis

Para a Suíça, país com tradição em Hike & Fly, Acro e competições técnicas, o Sertão representa algo diferente: liberdade, espaço e a chance de voar por 10 ou 11 horas seguidas em céu aberto, longe de zonas de alto tráfego aéreo e cercado por uma cultura vibrante.

Essa visão encantada da região foi compartilhada por Stephanie Westerhuis, que encabeça a Swiss XC League e concedeu uma entrevista especial para este artigo. Leia abaixo o depoimento completo — um olhar estrangeiro que revela tanto sobre o potencial do Sertão quanto sobre a hospitalidade brasileira.

5 Perguntas para Stephanie Westerhuis

Head da Swiss XC League e entusiasta do Sertão nordestino

  1. O que mais impressiona você quando voa no Sertão?

Do ponto de vista meteorológico, acho fascinante que as primeiras térmicas comecem tão cedo. E mais ainda: não são apenas algumas bolhas perdidas, mas térmicas consistentes! Além disso, fico impressionada que às vezes as térmicas sejam realmente suaves, apesar do vento forte. Claro, a paisagem também é de tirar o fôlego — uma região seca, pontuada por muitos lagos. É realmente especial.

  1. Como você descreveria o "estilo brasileiro" de voo livre?

Aprendi algo que levo comigo: “No Brasil, não existem problemas, só soluções”. Muito vento na decolagem? A equipe do reboque resolve e te coloca no ar com segurança. Durante o voo — quase nenhum espaço aéreo para se preocupar. Sem sinal após o pouso? Uma alma generosa te pega de moto e te leva para uma casa com Wi-Fi, sombra e bebida gelada. E o mais especial: mesmo sendo uma garota loira, sozinha, nunca me senti desconfortável por um segundo sequer entrando no carro de um desconhecido. Isso definitivamente não acontece em muitos países onde já estive.

  1. Depois de tantas viagens a Caicó, o que continua te trazendo de volta?

Além da vibe brasileira e da beleza da paisagem, o fato é que Caicó oferece muitos dias bons de voo. Acontece com frequência: tiramos duas semanas de férias nos Alpes e simplesmente não temos um único dia bom de voo. Aqui no Sertão, você decola praticamente todos os dias e tem grandes chances de pegar dias excepcionais.

  1. Qual foi o momento mais inesquecível (ou mais louco) da sua última viagem ao Brasil?

Para mim, o mais bonito foi a última hora de voo no pôr do sol. As térmicas naquele dia tinham sido cansativas. Quase pousei várias vezes. Vi o sol se pondo e comecei a procurar um campo aberto para pousar, achando que o dia tinha acabado. Mas, para minha surpresa, encontrei uma térmica suave… depois mais uma… e outra… Os urubus me mostraram a última térmica do dia e eu entrei em um planeio final mágico, que me levou até o pouso dos meus companheiros de equipe — que estavam quilômetros à frente durante todo o dia. Foi indescritível.

  1. Do seu ponto de vista, o Brasil pode ser o palco do próximo recorde mundial?

Sim, acreditamos que sim. No dia 30 de outubro, as condições estavam ideais para isso. A base de nuvens excepcionalmente alta no fim do dia foi a chave. Sebi fez um voo mais longo em distância, mas Paddy voou mais rápido durante boa parte do tempo. Se conseguirmos unir a estratégia dos dois — Sebi aproveitando o dia inteiro e Paddy seguindo a linha rápida — podemos sim quebrar o recorde atual. Está ao alcance. Só falta encaixar tudo no mesmo dia.

Uma Nova Janela para o Voo Mundial

Com infraestrutura, segurança e um clima que impressiona até os pilotos mais experientes, o Sertão brasileiro se consolida cada vez mais como um dos lugares mais promissores do planeta para quem busca voos épicos.

E além de ser um palco técnico de excelência, o Sertão oferece algo que nenhuma ferramenta de previsão consegue medir: a emoção de voar em um território onde o céu é generoso e o povo, mais ainda.

Em 2025, a temporada começou com o pé direito. E talvez — quem sabe — seja nesse mesmo outubro que veremos o Brasil escrever mais uma vez seu nome na história do voo livre mundial.

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