Palavra do presidente: Como é o Sistema de Nivelamento

04 de agosto de 2023 - Por Vinícius Matuk

É muito comum ouvirmos que é um absurdo existir uma regra que supostamente determina quem sabe voar mais ou melhor e quem pode dar aula ou levar passageiro em duplo. Ou então que as únicas pessoas que podem afirmar se determinado piloto sabe ou não voar é o próprio piloto ou seus amigos próximos. Ou até mesmo que as normas niveladoras servem apenas para promover reserva de mercado e dificultar ou impedir a formação de novos instrutores.

Acontece que as normas de nivelamento não surgiram da noite para o dia, muito menos no Brasil.

Nos primórdios do Voo Livre, todo aprendizado foi adquirido com a prática e com muitas tentativas e erros. Inúmeros acidentes aconteceram. Alguns foram inevitáveis, mas a grande maioria poderia ter sido evitada simplesmente com orientações e treinos.

Hoje em dia já está claro que não há nenhum sentido aprender a voar sozinho ou dentro de uma pequena comunidade isolada de outras pessoas e experiências. É necessário ouvir, ver, ler, entender as experiências de outras pessoas e aprender com elas. Caso contrário, todos os acidentes anteriormente ocorridos terão sido em vão.

É evidente que obter mais conhecimento ou melhores habilidades não necessariamente diminui o risco de acidentes, apesar de ser fundamental para antecipar e medir os perigos. Mas, sem dúvidas, mais conhecimento e mais habilidade mudam o grau de risco que o piloto aceita correr.

Como surgiu o Sistema

Com o tempo ficou claro, também, que, quando um piloto decide por conta própria aumentar o nível de seu voo, seja trocando de vela, voando em condições mais desafiadoras ou em locais em que não está acostumado, o risco de acidentes também cresce.

E é por essas razões que se desenvolveu uma norma que previsse um programa de treinamento e desenvolvimento que fizesse com que essa progressão para maiores habilidades aconteça de forma natural, aproveitando tudo que o Voo Livre tem a oferecer de positivo sem correr riscos desnecessários.

Não é segredo para ninguém que nós humanos precisamos de tempo para aprender novas habilidades e de mais tempo ainda para aperfeiçoá-las. Desta maneira, as normas niveladoras funcionam também como um freio para aqueles que querem apressar demais uma formação que deve ser gradual, paciente, sem deixar brechas de conhecimento e sem deixar de lado a segurança de todos envolvidos. O desenvolvimento deve ser como uma escada, que deve ser subida degrau a degrau, sem pular e sem correr.

Da mesma forma, essas normas buscam assegurar que as pessoas que se proporão a ensinar este maravilhoso esporte para outros interessados também tenham uma formação mínima necessária para poderem passar o conhecimento de forma clara e estruturada e, principalmente, que tenham condições de passar as noções de segurança e riscos aceitáveis para seus alunos.

Para a CBVL, o papel principal do instrutor é o de formador de opinião. É do instrutor que o aluno ouve a primeira vez sobre segurança, sobre tipos de equipamentos, sobre evolução no esporte, sobre a prática competitiva, até sobre quem são os bons e os maus exemplos em nossa comunidade. É nas mãos dos instrutores que está o futuro do Voo Livre.

A Norma Regulamentar

Todos os países do mundo onde o Voo Livre é praticado possuem sua própria norma niveladora ou adotam normas reguladoras de outros países com Federações mais organizadas. E no Brasil isso não é diferente.

A Norma Regulamentar da CBVL foi baseada nas normas mais avançadas de países europeus como Alemanha, Suíça e França. Foi criada logo no início da organização do Voo Livre no Brasil e segue em constante evolução e adaptação ao crescimento e desenvolvimento do esporte. Nossa Norma Regulamentar respeita também os princípios básicos previstos pelo CIVL/FAI através dos Recommended Safety Proficiency Standards, o que garante que nossa Carteira seja reconhecida internacionalmente através do International Pilot Proficiency Information (IPPI) Card.

Percebemos, então, que nada é escrito e previsto por acaso. Tudo tem sua razão de ser e um grau a mais de segurança que se busca alcançar. Na próxima vez que você estiver desanimado por achar que atingir determinado nível é difícil, pense nas razões dos requisitos existirem e verá que ainda bem que, da mesma maneira que é necessário estudo e prática para pilotar um avião com segurança, o mesmo também é verdade para a Asa Delta e o Parapente.

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