Atualização no calendário do Campeonato Brasileiro de Asa Delta 2026
Existe uma crença difundida — e perigosa — entre muitos pilotos de voo livre: a de que o paraquedas reserva só funciona se houver uma determinada altura mínima. Esse mito é responsável por alterar o comportamento de pilotos nas fases mais críticas do voo. Em vez de ser tratado como um recurso real e sempre disponível, o reserva muitas vezes é descartado da mente do piloto assim que ele se aproxima do solo ou voa baixo em relação ao relevo. E esse descuido tem custado vidas.
É verdade que o paraquedas reserva possui um tempo mínimo de abertura. No entanto, o que muitas vezes não se considera é que esse tempo pode ser muito mais curto do que o senso comum prega. Um estudo feito pela revista Cross Country Magazine com centenas de lançamentos controlados mostra que o tempo médio de abertura dos reservas modernos gira em torno de 2 a 3 segundos — em alguns casos, ainda menos. Em termos de altura, isso pode significar algo entre 20 a 40 metros, dependendo da velocidade de queda e do tipo de reserva utilizado (xcmag.com).
Além disso, pilotos experientes no fórum ParaglidingForum.com relatam lançamentos bem-sucedidos a alturas surpreendentemente baixas — alguns abaixo de 15 metros — onde o reserva abriu parcialmente e ainda assim reduziu o impacto o suficiente para evitar ferimentos graves. Esses relatos são raros, é verdade, mas o ponto é justamente este: os casos de sucesso existem, enquanto os relatos de pilotos que morreram sem lançar o reserva são inúmeros.
Por que então não lançar? Porque o mito da “altura mínima” paralisa a ação. O piloto, ao achar que não há mais tempo, decide por não tentar. E o resultado é trágico. Como aponta o mesmo estudo da Cross Country, Em análises de segurança, a maioria dos acidentes fatais acontece sem que o piloto tenha lançado o reserva, mesmo quando havia tempo e espaço para isso.
Por isso, é fundamental entender: a altura que realmente importa não é a do nível do mar ou da decolagem, mas sim a altura em relação à superfície mais próxima. Pode ser o chão, uma encosta, a copa das árvores, um prédio, um platô. Avaliar corretamente essa variável muda completamente a percepção da janela útil de lançamento.
E mais importante ainda: essa decisão precisa estar pronta antes de decolar. O tempo que se perde entre perceber o problema e decidir lançar pode ser a diferença entre a vida e a morte. Por isso, adote um gatilho mental simples, porém poderoso, antes de cada voo:
"Se eu sofrer um colapso a baixa altura, não hesitarei em lançar o reserva."
Repita esse compromisso silenciosamente antes de cada decolagem. Visualize o gesto de puxar a alça do reserva. Mentalize a liberação com força e determinação. Condicione sua mente para agir sem hesitação quando for necessário.
Lançar o reserva não é falha, não é vergonha, não é exagero. É sinal de maturidade técnica e emocional. É uma medida emergencial para situações que saem do controle. E sair do controle, em voo livre, faz parte da natureza do esporte — seja por erro humano, colapso inesperado, turbulência ou condição desfavorável.
Por fim, pratique. Redobre seu reserva com frequência. Treine lançamentos simulados no chão. Conheça a posição da alça no seu equipamento. E, mais do que tudo, deixe o mito da altura mínima para trás. Não hesite. A melhor hora para lançar o reserva é a hora em que você percebe que não está mais no comando da situação.
Reserve essa chance para você. Ela pode ser a diferença entre voltar para casa com um susto — ou não voltar.
Foto: Independence Paragliders