Palavra do presidente: 8 dicas preciosas para quem quer trabalhar em eventos de voo

06 de março de 2024 - Por Vinícius Matuk

Se você é um apaixonado por competições, já deve ter se feito as mesmas perguntas que recebo de tempos em tempos: como faço para fazer parte da equipe técnica de um campeonato? O que devo estudar, como devo me preparar? 

Bom, podemos falar que não existe somente uma forma e que nenhum destes caminhos é muito linear. Vou dar o exemplo do caminho que trilhei.

Como cheguei à equipe técnica

Sempre gostei muito de competir em todos os esportes que participei. Por isso, tive muita sorte de ser aluno de um instrutor que, na época, estava bastante ativo em competições.

Inúmeras foram as oportunidades em que para fazer os voos assistidos precisava acompanhar o Maurão em etapas do Circuito Sul Mineiro de Parapente, ou no FestFly em Córrego do Bom Jesus. Desde o primeiro contato já me apaixonei pelo clima das competições de voo livre e decidi que era aquele ambiente que eu iria frequentar.

Logo de início me interessei em estudar com mais atenção o Regulamento destes campeonatos, até para entender direito as “regras do jogo” e tentar compensar de alguma forma a falta de experiência e habilidade. E pela complexidade aparente de como o resultado é apresentado, também quis entender como era feita a apuração. E foi aí que o interesse por entender como funciona se uniu com a oportunidade de fazer acontecer.

Por muito tempo o Clube Sul Mineiro de Voo Livre não recebia competições, então me juntei ao meu conterrâneo Leandro Pádua, que também estava na mesma febre de competições que eu, e começamos a estudar mais a fundo os regulamentos dos estaduais da época e, principalmente, do Campeonato Brasileiro de Parapente. Juntamos amigos da região e montamos um arquivo de waypoints para montarmos provas e treinar a dinâmica do race to goal. Baixamos o software de apuração FSCOMP e, lendo os manuais online e simulando eventos com esses voos que fazíamos, fomos entendendo seu funcionamento. 

Os primeiros eventos

Tudo isso culminou na ideia de então organizar o primeiro Santa Rita Race, em 2016. Escrevemos nosso próprio regulamento, montamos toda a estrutura com apoio da diretoria do Clube Sul Mineiro de Voo Livre e, aprendendo com os erros, realizamos com sucesso nosso primeiro evento. Eu era o Juiz Geral e o Leandro, o apurador. A foto que ilustra essa matéria mostra nossa “batalha” e ansiedade para que os resultados saíssem sem nenhum erro. Foi tudo tão legal que repetimos em 2017 e recolocamos o CSMVL no cenário de competições.

Em razão destes eventos, recebi o convite da Federação Paulista para trabalhar como Juiz Geral numa das etapas do Estadual no Pico do Gavião. Estudei bastante o regulamento e, pela qualidade do trabalho, logo após fui convidado para atuar na mesma posição no Campeonato Brasileiro de Parapente. Foi aí que percebi que ainda precisava estudar mais e dominar as regras internacionais, tendo sido apresentado ao regulamento do PWC e às regras FAI pelo Thomas Milko, pelo Dió e pelo Zenilson Rocha.

Daí em diante, cada vez me aprofundando mais nas regras e regulamentos, fiz diversas etapas de campeonatos estaduais e regionais, como o Desafio Sudeste, do Campeonato Brasileiro de Parapente e de Asa Delta, do PWC e do Pan-Americano. Foi essa atuação, inclusive, que me guiou à posição que ocupo hoje na diretoria da CBVL.

8 dicas para quem quer trabalhar em eventos

Revendo todo o caminho que trilhei, identifiquei alguns pontos que precisam estar claros para todos que desejam trabalhar em eventos de voo livre. As dicas são:

  1. Deve estar claro em sua mente que se trata de um trabalho, uma atividade remunerada, e, como tal, deve ser levado a sério e feito com dedicação e profissionalismo;
  2. É indispensável que você tenha algum histórico em campeonatos. Participar como competidor te dá uma visão prática de como é o dia a dia, quais as dificuldades, detalhes a serem considerados de infraestrutura e de montagem de provas, por exemplo;
  3. Você precisa dominar as regras dos campeonatos, principalmente as regras FAI, e a legislação aeronáutica. Você precisa saber o que pode e o que não pode ser feito para ter certeza de que não vai propor uma prova inválida;
  4. Também precisa estar claro quais são as atribuições do cargo que você pretende atuar. O Juiz Geral, o Apurador e o Coordenador de Resgate, embora se ajudem o tempo todo, têm responsabilidades bem distintas (descritas, inclusive, nas regras FAI);
  5. Não tem como atuar como Juiz e principalmente como Apurador sem conhecer o funcionamento do software de apuração, como criar e alimentar o banco de dados e a lógica das fórmulas (presentes das regras FAI e PWC). Não é necessário um conhecimento profundo de programação, mas pelo menos noções básicas de como encontrar e alterar determinadas linhas de código (muitos bugs são resolvidos dessa maneira);
  6. O inglês intermediário é quase uma regra. O software de apuração e seus manuais são todos em inglês, assim como todas as regras FAI. Além disso, eventos homologados pela FAI (os famosos FAI2 ou FAI1) devem ser realizados obrigatoriamente em inglês, então esteja preparado;
  7. Soft skills como empatia, paciência, boa comunicação, proatividade, boa capacidade para trabalho em equipe e liderança também são indispensáveis para uma boa atuação e o clima do evento depende quase todo de como a equipe técnica se porta à frente dos competidores;
  8. Disposição para estudar constantemente e se manter atualizado com as mudanças nos regulamentos, na legislação e nas fórmulas.

Correndo o risco de ser chamado de coach, lembro a todos que não existe caminho fácil e curto para o sucesso. Mas o trajeto também não é obscuro. As regras são todas públicas e acessíveis aos interessados. As regras FAI estão disponíveis online, assim como as do PWC. Aqui na CBVL temos todos os documentos organizados aqui.

Webinário da FAI 

E tem uma oportunidade muito legal rolando! A Comissão Geral de Esportes Aéreos (CASI) da FAI realizará um webinário para treinar pessoas que desejam trabalhar em campeonatos. Ele acontece de forma online e gratuita no fim do mês. O Fernando Brandalize, nosso Diretor Técnico de Competições de Parapente, passou detalhes sobre o assunto aqui. Aproveite!

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