Entrevista: Seleção fala sobre o Mundial de Asa 2021

Pilotos defendem ótimo histórico do Brasil na competição em julho, na Macedônia

01 de abril de 2021 - Por Guilherme Augusto

O Campeonato Mundial de Asa Delta 2021 segue confirmado para acontecer de 18 a 31 de julho, reunindo os melhores pilotos do mundo. A prova rola na Macedônia, na região de Kruševo, um dos pontos mais altos do país europeu. 

E como estão as expectativas dos nossos pilotos com o primeiro Mundial depois da Prata por equipes conquistada em 2019? Conversamos com eles para saber de seus preparativos neste delicado período de pandemia e também para ouvir o que esperam individual e coletivamente deste desafio.

Seleção Brasileira garantiu a Prata por equipes em 2019, no desafiador Mundial na Itália

A Seleção Brasileira estará composta pelos seis melhores pilotos do Ranking nacional - que não contou com a abertura do Brasileiro 2021, recentemente adiado. Assim, estaremos representados por Álvaro Sandoli (o Nenê Rotor), Bruno Sandoli, Carlos Niemeyer, David Brito Filho, Glauco Pinto e Max Tiberio Turiaco.

Terceiro colocado no ranking, Marcelo da Rocha (o Moikano) também tem sua vaga no time garantida mas, a princípio e por motivos pessoais, não irá participar de competições internacionais em 2021. Desta forma surgiu oportunidade ao jovem Bruno, filho de Nenê Rotor, integrar a equipe. Este será seu primeiro Mundial.

Outro fato que merece destaque é o apoio que o elenco recebe da CBVL. Além de todo o suporte institucional, a Confederação também oferece incentivo financeiro aos nossos atletas nos Mundiais de Asa Delta e de Parapente. Na última edição, em 2019, a CBVL incentivou as equipes de asa e parapente em R$ 75 mil, maior incentivo histórico da entidade.

Bora pra entrevista?

CBVL: De quantos Mundiais você já participou representando o Brasil?

Álvaro - Nenê: Participei de 13 edições, de 1987 a 2019, o que me coloca como o segundo piloto da história com mais participações em Mundiais. Pude participar do título de 1999, na Itália, e também dos três vice-campeonatos, que conquistamos em 2001, na Espanha; em 2003, em Brasília; e em 2019, na Itália.

Álvaro, o Nenê Rotor, é um recordista: já representou o Brasil em 13 Mundiais

Bruno: Esta será minha primeira vez na equipe brasileira, mas já estive em vários mundiais, acompanhando meu pai, Nenê. Estou muito animado.

Carlinhos: Entre Mundiais e Pré-Mundiais foram 12 participações, de 1981 a 2017. Integrei a Seleção do título de 1999 e minha melhor classificação pessoal foi o segundo lugar no pré de 2016.

David: Voei nos Mundiais de 2017 e 2019, em Brasília e na Itália. Também participei de alguns pré-Mundiais, como na Itália e no México.

Glauco: Ao todo foram cinco. O primeiro foi em 2011, na Itália, onde obtive o meu melhor resultado pessoal com um oitavo lugar. Depois veio a Austrália, em 2013; México, em 2015; Brasília, em 2017, onde infelizmente me machuquei; e Itália, em 2019.

Max: Este será meu quarto Mundial representando o Brasil. Antes, competi nas edições de 2013, 2015 e 2019.

CBVL: Diz aí, como é voar entre os melhores do mundo?

Álvaro - Nenê: Primeiramente, é espetacular poder participar de um esporte com uma longevidade tão grande como o voo livre. Há muitos anos voo entre os tops do Brasil e 10 ou 15 melhores do mundo, isso motiva muito a continuar funcional e com a mente jovem. Fazer parte de um grupo tão seleto como o da Seleção então, e há tanto tempo, é excelente. Sou muito grato ao esporte por isso.

Bruno: Ainda acho que estou longe de ser um dos melhores do mundo, estou num caminho de evolução e acredito que ainda tenho muito o que aprender. Me sinto honrado em fazer parte da equipe, um sonho para todos os pilotos, ainda mais para quem trabalha com voo toda a vida como a nossa família. 

Bruno Sandoli vai para seu primeiro mundial: 'meu foco é coletivo, quero ajudar a equipe'

Carlinhos: Passei a vida toda voando, então me sinto bem. Tive a oportunidade de fazer parte da geração de ouro do Brasil, coroada com o título no mundial. Claro que hoje temos pilotos excelentes, mas que ainda não têm a técnica, gana e treinamento que havia naquela equipe de 99. Aliás, acredito que no mundo o nível técnico também diminuiu.

David: Participar de um Mundial mexe muito com a pessoa. Você está lá representando sua família, seu país, tudo o que fez até aqui ao longo da vida. É algo muito motivador, uma sensação única.

Glauco: Para mim, é a competição mais aguardada, que podemos comparar com um jogador de futebol que está prestes a jogar a Copa do Mundo Estamos lá representando o nosso país e competindo com os melhores do planeta, então é ali que você vê quem é quem. Acredito que todo piloto competidor conte os dias para chegar lá.

Max: A possibilidade de ir ao Mundial veio naturalmente, como consequência de muita dedicação ao voo e sacrifício, afinal deixei de fazer muitas coisas para voar. Então acredito que não exista uma sensação especial, pois tudo aconteceu de forma muito natural. Mas estar entre os pilotos que representam o Brasil não é fácil, é muito concorrido, com vários pilotos ótimos. 

CBVL: Já voou na Macedônia? Conhece a região onde irão rolar as provas?

Álvaro - Nenê: Até Beliscamos uma área pequena no país durante o Mundial da Itália, mas de fato nunca voei lá. Me falaram que é muito parecido com o Brasil, um vale entre duas cordilheiras, com cerca de 40 km entre elas. Condição amena de voo. Não é tão casca como foi a Itália, em 2019. Assim, acho que os brasileiros até têm uma certa vantagem.

Bruno: Não conheço o país. Amigos disseram que é muito legal de voar lá e que lembra a região de Andradas, onde costumamos voar com certa frequência.

Carlinhos: Ainda não conheço a Macedônia, mas todos os relatos dizem que é um lugar bom de se voar, com condições bem parecidas com as daqui do Brasil.

Carlinhos é um dos mais experientes do elenco e participou do time que faturou nosso Ouro em 1999

Deivid: Nunca voei lá, mas o pessoal do parapente disse que é bem parecido com o Brasil. Ou seja, será distante do que enfrentamos na Itália, que tinha muitas montanhas, roubadas e uma condição muito forte. Em tese, na Macedônia há bastante flatland, algumas cordilheiras.

Glauco: Nunca estive lá, mas ouvi de vários amigos pilotos que os brasileiros irão gostar muito, que podemos nos dar bem, que há condições parecidas com as de onde rolam as provas por aqui. Estamos falando de vales, montanhas não muito altas e coisas do tipo. Vamos ver.

Max: Já voei em praticamente toda a Europa, mas nesta região ainda não. Ela tem fama ótima, de ser um lugar lindo, com pousos fartos, e sinto que toda a equipe está ansiosa para voar lá. Promete ser bem mais fácil do que na Itália, onde tinha vales muito apertados.

CBVL: Faltam cerca de três meses ao evento e vivemos um período de incertezas em diferentes regiões e países, inclusive com alguns eventos cancelados. Neste cenário, como está o seu treinamento?

Álvaro - Nenê: Eu estou voltando de um acidente grave que tive há cerca de um ano, com cirurgias, recuperação lenta, essas coisas. Fisicamente estou bem, mas no momento ainda sem ritmo de voo. Pretendo então voar mais nestes próximos meses, mas sei que o ritmo de voo mesmo a gente ganha já na competição, depois dos primeiros voos. 

Bruno: Está um pouco lento, né? Como a maioria das rampas estão fechadas acabamos tendo mais dificuldades de encontrar locais para decolar, mas voo sempre que possível. A parte física segue em ordem.

Carlinhos: Faltam poucos meses e ainda nem temos a certeza de que o evento vai acontecer, mesmo que ele siga oficialmente confirmado. Para treinar eu tenho voado muito, mas na maioria das vezes de parapente, que tem pilotagem diferente, mas leitura de voo igual, então acredito que estou me preparando bem.

David: Tenho conseguido fazer alguns voos, mas menos que gostaria até pela falta de competições. Pretendo intensificar a preparação nos próximos meses.

David quer ficar no top10 e ajudar Brasil a conquistar o pódio

Glauco: Estou fazendo minha parte, principalmente tentando manter a parte física. Porém nosso voo no Brasil tem sido prejudicado pela falta de competições e aqui na minha região também está sendo atrapalhado pela chuva. Além disso, temos a questão financeira, que pode limitar a participação de muita gente, afinal o Euro está na casa dos 7 para 1.

Max: Nossos treinos são os campeonatos, que não acontecem há quase dois anos. Voar fora de prova é mais para regular asa. Na Europa tem acontecido algumas provas, mas na América não, o que nos deixa em atraso e prejudica nosso treinamento. Apesar disso, venho voando regularmente, tenho o voo no sangue, e vou tentar competir na Flórida, em abril, ou na Itália, em junho.

CBVL: A palavra agora é ‘expectativas’. O que você espera do Mundial individualmente?

Álvaro - Nenê: Minha expectativa pessoal não é grande no momento em virtude dessa recuperação das cirurgias. Mas nos últimos mundiais eu tenho conquistado posições progressivas, sempre dando um passo a mais. Fui oitavo em Brasília e na Itália fiquei em sétimo, com uma grande possibilidade de ficar em sexto. Então vou voar tranquilo, seguro, sem grandes pretensões e esta experiência e serenidade podem acabar justamente ajudando.

Bruno: Vai ser uma nova experiência, onde quero aprender o máximo e dar o meu melhor. Meu foco será no coletivo, em ajudar equipe.

Carlinhos: Quero me divertir e representar bem o Brasil, caso a gente consiga ir, claro. Sempre vou dar o meu melhor, mas só voo em condições boas, porque se ela estiver ruim, arriscada, perigosa, eu não decolo. Mas acredito que lá será muito bom.

David: Meu objetivo é melhorar minha posição no ranking individual, estar entre os 10 melhores seria bom demais e vou fazer o possível para chegar lá. Meu melhor desempenho até aqui foi um 20º lugar.

Glauco: Vou dar o meu melhor, deixar todo o suor possível, representar bem o país. Pessoalmente, minha meta sempre é tentar terminar entre os dez primeiros, grupo que recebe medalha, diploma, participa da premiação do evento.

Para Glauco a Prata de 2019 não foi nenhuma surpresa e nem um grande desafio, já que a Seleção 'encaixou' muito bem

Max: Quero estar entre os 20 primeiros. Para falar a verdade, depois de quase dois anos parado eu não vejo a hora de começar a competir e acredito que esta grande vontade que tenho de voar pode até me ajudar a conquistar o objetivo.

CBVL: E da Seleção, o que você espera?

Álvaro - Nenê: Temos uma incógnita em todo o mundo, já que até aqui praticamente ninguém conseguiu realizar provas, competições, mesmo na Europa. Então claro que o favoritismo segue com a Itália, mas fora isso eu não apontaria ninguém ao favoritismo ou não. Acho que teremos várias surpresas lá e o brasileiro tem como característica o poder de surpreender, de tirar uma carta na manga, por isso peço a todos que voemos com sangue nos olhos e o resultado virá.

Bruno: Acredito que a nossa equipe é muito forte e que tem grandes chances de obter um pódio sim. Nosso time é formado por ótimos pilotos, que juntam experiência e juventude.

Carlinhos: Nossa equipe é boa, com todos pilotos voando muito bem. Acho que só precisamos de um pouco mais de treinamento, o que foi prejudicado pela falta de campeonatos em 2020 e 2021, e entrosamento. Acredito que podemos sim ter um pódio, segundo ou terceiro lugar com certeza.

David: No coletivo, a minha expectativa é o pódio, com certeza. Acredito que podemos estar entre os três melhores times.

Glauco: O Brasil tem um grande potencial. Na Itália (em 2019) nós encaixamos muito bem como equipe e conquistamos o segundo lugar - e sem muitas dificuldades, já que dominamos a posição desde o primeiro dia e não fomos ameaçados por ninguém. A vitória é difícil, pois a Itália na asa está como os EUA no basquete, quase invencível, mas acredito muito num pódio para nós.

Max: Acho difícil repetirmos o segundo lugar, justamente pela falta de treinamento. Para se ter um exemplo, neste momento tá rolando campeonato na Austrália. Ainda temos os italianos, os austríacos e outros times que podem vir fortes. Temos muita força de vontade e capacidade técnica, mas a falta de treino pode pesar.

O veterano Max faz ressalvas pela falta de competições no Brasil no último ano, mas ainda nos vê como um dos favoritos ao pódio

CBVL: Os italianos venceram tudo nos últimos Mundiais. Acha que eles ainda são os favoritos? Por quê?

Álvaro - Nenê: Bom, são os italianos, que há tantos anos voam tão bem. Além disso, o Brasil tem feito um bom trabalho que culminou com a prata no último mundial. Uma prova totalmente diferente do que estamos habituados, terreno acidentado, muito vento, pouco pouso, escarpas agudas. Temos uma equipe consistente e que pode sim sair de lá com um pódio.

Bruno: A italiana é a equipe favorita, né? Tecnicamente eles têm os melhores pilotos, que obtiveram os melhores resultados nos últimos mundiais. Também tem a República Tcheca, Brasil, Alemanha e Áustria. Para mim, essas são as equipes mais fortes.

Carlinhos: A favorita é a Itália, sem dúvidas. Os caras treinam muito mais que a gente e têm ganho todas as competições. Depois há o Brasil e brigamos com países como Áustria, Estados Unidos e Austrália.

David: Bom, a Itália dominou o primeiro lugar nos últimos anos, tem um time muito experiente, unido, que vem ganhando tudo de um tempo para cá. Claro que a missão é tentar ganhar deles, mas é difícil ser competitivos porque eles estão em um nível acima. O Brasil sempre é favorito ao pódio, com ótimos pilotos, então acredito que nosso objetivo é o segundo lugar.

Glauco: Os italianos são favoritos, com certeza. Ganharam os últimos mundiais e também conseguiram pôr 2 de seus pilotos entre os 3 melhores nas últimas 5 edições do evento. Depois estão outros países, como nós, Austrália, França e Alemanha, que tem uma equipe homogênea. 

Max: A Itália é super favorita, com muitos pilotos bons e está voando. A Áustria também tem potencial, mas depende dos pilotos que farão parte da seleção. Depois tem ainda a Alemanha, que é sempre forte. O terceiro lugar está ao nosso alcance e o segundo só se mandarmos muito bem.

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