Mulheres pilotos: voo duplo despertou amor pelo esporte

Agora piloto, Renata Talöken se apaixonou pelo voo assim que tirou os pés do chão

24 de maio de 2021 - Por Guilherme Augusto

Esta é uma daquelas histórias que faz nosso coração de apaixonados pelo voo livre bater mais forte. É o relato de como um despretensioso voo duplo no Rio de Janeiro despertou o interesse pelo esporte em Renata Talöken, agora uma das mais novas pilotos do país. 

A gaúcha programava sua viagem de férias à capital carioca quando uma amiga sugeriu incluir um voo de asa na programação, como quem não quer nada, entre um passeio e outro. Meses depois, em agosto de 2020, lá estavam as três amigas no alto da Pedra Bonita - São Conrado.

Enquanto conhecia o equipamento e recebia instruções, Renata conversava com o instrutor e observava outros decolarem. Sem pressa, ouvia histórias sobre o voo e fazia perguntas. Claro que também houve tempo para sentir um pouco de inveja do piloto ‘que passa o dia todo voando sobre o Rio. Que trabalho ruim, hein?’.

Para Renata Talöken foi tudo muito simples; mais difícil que aprender a voar está sendo encontrar equipamento do seu tamanho

Amor à primeira vista

Quando correu em direção à rampa e tirou os pés do chão toda aquela curiosidade deu lugar a um novo sentimento. “Tive a sensação de estar literalmente voando. Sou uma pessoa muito tensa, nervosa a ponto de ter bruxismo, e ali estava leve, sobre as nuvens. Toda a tensão tinha passado, simplesmente deixando de existir”.

De volta a Porto Alegre um pensamento não lhe abandonava. “Estava com aquilo de ‘eu preciso fazer isso, quero ter este sentimento mais vezes’”. E assim a psiquiatra passou direto à escola de asa delta, sem nem cogitar ficar apenas nos voos duplos. Queria pilotar.

Tudo começou num voo no Rio de Janeiro. Depois Renata não quis saber de voo duplo, foi logo aprender a pilotar

Hora de aprender

Encontrou o instrutor Pierre Gil e logo começaram as aulas. “Foi muito legal mesmo. Quando ela me procurou para pedir as informações e valor do curso eu mal terminei de falar e ela já perguntou, ‘quando começo?’. Então iniciamos e deu tudo certo. Ela teve um pouco de dificuldade pela falta de força física, mas mandou bem demais e aprendeu super rápido”.

Outra dificuldade superada foi a logística. Como Renata mora em Porto Alegre, às vezes trabalha em Encantado (RS) e Pierre dá aulas em Sapiranga (RS), em alguns dias precisava rodar 400 km para encarar as aulas.

Se engana quem pensa que esta é uma história escrita apenas por sentimentos românticos, como a paixão pelo novo esporte. “Bom não era. Algumas aulas aconteciam em dunas, então carregar o equipamento exigia muita força. O Pierre foi muito parceiro e sempre ajudava. Apesar de cansativo era algo que dava para relevar e que hoje, claro, vejo que valeu a pena”.

O primeiro voo solo rolou no Morro Ferrabrás, em Sapiranga. “Estava tão tensa que nem consigo lembrar direito do que pensava (risos), mas foi bem legal. Na segunda já foi mais tranquilo e aproveitei mais. Aos poucos espero reencontrar ‘aquela’ sensação do primeiro voo”.

Pierre Gil foi o padrinho no voo. Às vezes, aluna encarava até 400 km para fazer as aulas

‘Você vai voar? Tá maluca!?’

Renata até estranhou quando perguntamos se ela se considerava um exemplo para outras mulheres que ainda não decolaram. “Para mim tudo foi muito natural. Penso ‘vou lá e faço’. Mas quando me aproximei vi que o esporte ainda é dominado pelos homens, que é raro ter mulheres voando, e muitas pessoas me perguntaram se eu tava ficando maluca, se não tinha medo, diziam que era preciso ter coragem, essas coisas”.

Ciente que a sua história pode acabar inspirando outras pilotos, a gaúcha aproveitou para dar o recado. “Espero que mais mulheres também façam parte disso. Já aviso que as aulas não são a coisa mais legal do mundo, mas no final tudo é muito gratificante. Quero ver mais mulheres voando”.

Primeiro voo solo rolou no Morro Ferrabraz e foi pura tensão. Mas aos poucos a nova piloto está se soltando...

“Quero colocar minha asa no carro e voar por aí”

Além de ganhar intimidade com o equipamento, a missão agora é encontrar equipamentos do seu tamanho, já que dificilmente cintos, capacete, luvas e itens afins ficam bem ajustados aos seus 1,63m de altura. “A indústria precisa pensar mais nas mulheres pequenas. Isto é uma grande falha (risos)”.

“No futuro? À medida em que vou encontrando os equipamentos certos e melhorando a técnica eu quero é colocar a asa em cima do carro e voar por aí, conhecer outros lugares. E também voar em locais mais distantes, com equipamento alugado onde não consigo ir com a minha asa. Quem sabe até, um dia, participar de competições”.

Mandou muito, Renata! A CBVL parabeniza sua iniciativa e torce para que muitas mulheres sigam seu exemplo. Desejamos uma vida longa, segura e (muito!) divertida no voo ;)

Siga a nova piloto no instagram @renatateloken.

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